terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Supostas aparições de OVNIs mudam a vida de Riolândia


São Paulo - Uma suposta invasão extraterrestre mudou a rotina do pequeno município e Riolândia, a 570 km de São Paulo. Os ETs não fizeram nenhum desembarque em massa no lugar, mas tomaram conta da imaginação de boa parte dos cerca de 9 mil moradores locais. Não se fala em outra coisa na cidade desde que o dono de uma hospedaria avistou um objeto em formato de disco pousando em um canavial. Misteriosas luzes que se movam no céu começaram a ser notadas, e os objetos voadores não identificados (OVNIs) viraram o principal assunto das conversas entre vizinhos. As aparições mexeram tanto com a cidade que a prefeitura decidiu comemorar o aniversário de 54 anos de Riolândia, na próxima quarta-feira, com uma palestra gratuita sobre Ufologia. A festa deve ser embalada pelo hit "Vamos ET", do cantor sertanejo Jorge Moisés, e os visitantes poderão comprar um cartão postal com o desenho de um disco voador.

O primeiro relato de um fenômeno relacionado com extraterrestres foi feito no dia 19 de janeiro por Maurício Pereira da Silva, de 39 anos, dono da Pousada Piapara, às margens do Rio Grande, na divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. "Acordei para ir ao banheiro entre 3h e 3h30. Fui à cozinha pegar um copo de água e vi uma luz entrando pela janela. Ouvi um barulho de cana amassada", lembra Silva.

Ele diz que sentiu medo, mas a curiosidade falou mais alto e, ao olhar pela janela, o dono da pousada pode ver a espaçonave levantando vôo. Na manhã seguinte, notou que o canavial estava amassado. As canas não se quebraram e ficaram todas viradas para o mesmo lado, formando uma clareira com cerca de 60 metros de diâmetro. Outros moradores avistaram objetos voadores, dando força à história de Silva.

As explicações para o fenômeno vieram de todos os lados. Alguns pesquisadores acreditam que foi uma corrente de vento que fez a cana deitar. "São mini-tornados que, ao tocar no solo, reviram a superfície e deixam a cana deitada" - argumenta o professor Pedro Leite da Silva Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

Os ufólogos, por sua vez, contestam. "Não pode ter sido o vento nem falta de nutrientes, porque a cana ficou virada em uma única direção. Não tenho dúvida nenhuma de que é um fenômeno ufológico" - aponta o ufólogo Jorge Nery.

Divididos entre os que acreditam em ETs e os céticos, os habitantes de Riolândia nunca observaram tanto o céu. As aparições se espalham pelas cidades vizinhas. Uma família diz ter visto um disco voador em Buritama, no domingo retrasado. No mesmo dia, outros círculos apareceram em canaviais de Andradina e Araçatuba.

Ufólogos

Apenas 2% de todos os relatos que sugerem a aparição de extraterrestres no Brasil não têm explicação científica e, por isso, são considerados casos ufológicos autênticos. O dado consta de um levantamento feito por Claudeir Covo, presidente do Instituto Nacional de Investigação de Fenômenos Ufológicos (INFA). "Cerca de 83% de tudo que é divulgado sobre ETs, envolvendo depoimentos, vídeos e fotos, não passam de enganos dos observadores" - garante Covo.

Corpos celestes, fenômenos atmosféricos, balões meteorológicos e até mesmo sujeira na lente do binóculo podem confundir os caçadores de ETs. Além disso, os estudos de Covo mostram que 15% dos relatos e OVNIs feitos nos últimos 42 anos são fraudes. Para separar o joio do trigo, os ufólogos lançam mão de equipamentos e de um método de pesquisa. Como não podem viver só da ufologia, já que a atividade não é remunerada, os pesquisadores precisam recorrer, muitas vezes, a laboratórios de universidades. O trabalho do ufólogo depende de entrevistas gravadas em vídeo com testemunhas, recolhimento de material com o qual supostos ETs entraram em contato e análises de radiação e de campo magnético.

Lições vêm de outro planeta

Os professores de Riolândia fizeram uma importante descoberta no início do ano letivo: os extraterrestres ajudam as crianças a aprender. E os pais estão tão envolvidos com as aparições de círculos voadores no céu da cidade que deixam as crianças conviverem com os bichinhos verdes na escola sem nenhuma preocupação. É que o melhor jeito de manter os alunos concentrados nas lições de português, matemática, história e geografia é relacionar, de alguma forma, as aulas com os ETs. E foi assim que surgiram as relações sobre "o dia em que um extraterrestre pousou em meu quintal" e os desenhos livres sobre "como deve ser uma nave espacial". "Este é o assunto da cidade. As crianças só ouvem isso quando vão para casa e só querem falar disso aqui na escola" - conta a professora Giudete Ferreira. "Logo no primeiro dia de aula, os professores perceberam que deviam trazer a realidade dos nossos alunos para dentro da sala de aula" - conta.

A adaptação do currículo escolar foi aprovado pelas crianças. "A tia (professora) pediu para a gente desenhar um ET, e eu fiz um que é menininha, cor-de-rosa" - conta a pequena Luana Gabrieli da Silva Freitas, de 7 anos. Luiz Sérgio Pugas da Silva, também de 7 anos, colega de sala na segunda série, foi outro que encheu o caderno com figuras cabeçudas e de olhos grandes. "Nunca vi um pessoalmente, mas acho que é assim" - acredita.

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